domingo, 26 de abril de 2015

DADOS NACIONAIS SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Apesar de ser um crime e grave violação de direitos humanos, a violência contra as mulheres segue vitimando milhares de brasileiras reiteradamente: 43% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diariamente; para 35%, a agressão é semanal. Esses dados foram revelados no Balanço dos atendimentos realizados em 2014 pela Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR).
Em relação ao momento em que a violência começou dentro do relacionamento, os
atendimentos de 2014 revelaram que os episódios de violência acontecem desde o início da relação (23,51%) ou de um até cinco anos (23,28%).

Em 2014, do total de 52.957 denúncias de violência contra a mulher, 27.369 corresponderam a denúncias de violência física (51,68%), 16.846 de violência psicológica (31,81%), 5.126 de violência moral (9,68%), 1.028 de violência patrimonial (1,94%), 1.517 de violência sexual (2,86%), 931 de cárcere privado (1,76%) e 140 envolvendo tráfico (0,26%).
Dos atendimentos registrados em 2014, 80% das vítimas tinham filhos, sendo que Adeles presenciavam a violência,  e 18,74% eram vítimas diretas juntamente com as mães. Saiba mais.
Feminicídio
Entre 1980 e 2010 foram assassinadas mais de 92 mil mulheres no Brasil, 43,7 mil somente na última década. Segundo o Mapa da Violência 2012 divulgado pelo Instituto Sangari, o número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%. Já o Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil revela que, de 2001 a 2011, o índice de homicídios de mulheres aumentou 17,2%, com a morte de mais de 48 mil brasileiras nesse período. Só em 2011 mais de 4,5 mil mulheres foram assassinadas no país.
“O crescimento efetivo acontece até o ano de 1996, período que as taxas de homicídio feminino duplicam, passando de 2,3 para 4,6 homicídios para cada 100 mil mulheres. A partir desse ano, e até 2006, as taxas permanecem estabilizadas, com tendência de queda, em torno de 4,5 homicídios para cada 100 mil mulheres. No primeiro ano de vigência efetiva da lei Maria da Penha, 2007, as taxas experimentam um leve decréscimo, voltando imediatamente a crescer de forma rápida até o ano 2010, último dado atualmente disponível, igualando o máximo patamar já observado no país: o de 1996.”
De 2001 a 2011, o índice de mulheres jovens assassinadas foi superior ao do restante da população feminina. Em 2011, a taxa de homicídios entre mulheres com idades entre 15 e 24 anos foi de 7,1 mortes para cada 100 mil, enquanto a média para as não jovens foi de 4,1.  Saiba mais no Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil.
Já a Pesquisa Avaliando a Efetividade da Lei Maria da Penha (Ipea, março/2015) apontou que a Lei nº 11.340/2004 fez diminuir em cerca de 10% a taxa de homicídios contra mulheres praticados dentro das residências das vítimas, o que “implica dizer que a LMP foi responsável por evitar milhares de casos de violência doméstica no país”.
Violência sexual 
Em 2011, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, 12.087 casos de estupro no Brasil, o que equivale a cerca de 23% do total registrado na polícia em 2012, conforme dados do Anuário 2013 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Saiba mais acessando estudo sobre estupro no Brasil realizado pelo Ipea com base nos microdados do Sinan.
Em 2013, o Ipea levou a campo um questionário sobre vitimização, no âmbito do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), que continha algumas questões sobre violência sexual. A partir das respostas, estimou-se que a cada ano no Brasil 0,26% da população sofre violência sexual, o que indica que haja anualmente 527 mil tentativas ou casos de estupros consumados no país, dos quais 10% são reportados à polícia. Tal informação é consistente com os dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) de 2013, que apontou que em 2012 foram notificados 50.617 casos de estupro no Brasil. Todavia, essa estatística deve ser olhada com bastante cautela, uma vez que, como se salientou anteriormente, talvez a metodologia empregada no SIPS não seja a mais adequada para se estimar a prevalência do estupro, podendo servir apenas como uma estimativa para o limite inferior de prevalência do fenômeno no País.
Percepção da população sobre a violência contra as mulheres
Pesquisa realizada pelo Data Popular e Instituto Patrícia Galvão revelou que 98% dos brasileiros conhecem, mesmo de ouvir falar, a Lei Maria da Penha e 86% acham que as mulheres passaram a denunciar mais os casos de violência doméstica após a Lei. Para 70% dos entrevistados, a mulher sofre mais violência dentro de casa do que em espaços públicos.

Fonte: Portal da Campanha Compromisso e Atitude, disponível em http://www.compromissoeatitude.org.br/dados-nacionais-sobre-violencia-contra-a-mulher/



"Sou homem.


Quando nasci, meu avô parabenizou meu pai por ter tido um filho homem. E agradeceu à minha mãe por ter dado ao meu pai um filho homem. Recebi o nome do meu avô.

Quando eu era criança, eu podia brincar de LEGO, porque "Lego é coisa de menino", e isso fez com que minha criatividade e capacidade de resolver problemas fossem estimuladas.

Ganhei lava-jatos e postos de gasolina montáveis da HotWheels. Também ganhei uma caixa de ferramentas de plástico, para montar e desmontar carrinhos e caminhões. Isso também estimulava minha criatividade e desenvolvia meu raciocínio, o que é bom para toda criança.

Na minha época de escola, as meninas usavam saias e meus amigos levantavam suas saias. Dava uma confusão! E então elas foram proibidas de usar saias. Mas eu nunca vi nenhum menino sendo realmente punido por fazer isso, afinal de contas "Homem é assim mesmo! Puxou ao pai esse danadinho" - era o que eu ouvia.

Em casa, com meus primos, eu gostava de brincar de casinha com uma priminha. Nós tínhamos por volta de 8 anos. Eu era o papai, ela era a mamãe e as bonecas eram nossas filhinhas. Na brincadeira, quando eu carregava a boneca no colo, minha mãe não deixava: "Larga a boneca, Juninho, é coisa de menina".

No natal, minha irmã ganhou uma Barbie e eu uma beyblade. Ela chorou um pouco porque o meu brinquedo era muito mais legal que o dela, mas mamãe todo ano repetia a gafe e comprava para ela uma boneca, um fogãozinho, uma geladeira cor-de-rosa, uma batedeira, um ferro de passar.

Quando fiz 15 anos e comecei a namorar, meu pai me comprou algumas camisinhas.
Na adolescência, ninguém me criticava quando eu ficava com várias meninas.
Atualmente continua assim.

Meu pai não briga comigo quando passo a noite fora. Não fica dizendo que tenho que ser um "rapaz de família". Ele nunca me deu um tapa na cara desconfiado de que passei a noite em um motel.

Ninguém fica me dando sermão dizendo que eu tenho que ser reservado e me fazer de difícil.
Ninguém me julga mal quando quero ficar com uma mulher e tomo a iniciativa.

Ninguém fica repetindo que eu tenho que me cuidar porque "mulher só pensa em sexo".

Ninguém acha que minhas namoradas só estavam comigo para conseguir sexo.
Ninguém pensa que, ao transar, estou me submetendo à vontade da minha parceira.
Ninguém demoniza meus orgasmos.

Nunca fui julgado por carregar camisinha na mochila e na carteira.
Nunca tive que esconder minhas camisinhas dos meus pais.

Nunca me disseram para me casar virgem.

Quando saio na rua nenhuma desconhecida me chama de "delícia" ou “gostoso”, de um modo que me deixe desconfortável.

Nunca tive que atravessar a rua, mesmo que lá estivesse batendo um sol infernal, para desviar de um grupo de mulheres num bar, que provavelmente vão me cantar quando eu passar, me deixando envergonhado.

Ninguém fica regulando minhas roupas, dizendo que se minhas expõem partes do meu corpo é porque “estou pedindo”.

Quando saio à noite, posso usar a roupa que quiser.
Se eu sofrer algum tipo de violência, ninguém me culpa porque eu estava bêbado ou por causa das minhas roupas.

Se, algum dia, eu fosse estuprado, ninguém iria dizer que a culpa era minha, que eu estava em um lugar inadequado, que eu estava com a roupa indecente. Ninguém tentaria justificar o ato do estuprador com base no meu comportamento. Eu seria tratado como VÍTIMA, e só.

Eu nunca fui seguido por uma mulher em um carro enquanto voltava para casa a pé.

Eu posso pegar o metrô lotado todos os dias com a certeza que nenhuma mulher vai ficar se esfregando em mim, e nunca precisaram criar vagões exclusivamente para homens em nenhuma cidade que conheço.

Nunca ouvi falar que alguém do meu sexo foi estuprado por uma multidão.

Nunca ficaram repetindo para mim que "Homem tem que se valorizar" ou "se dar ao respeito". Aparentemente, meu sexo já faz com que eu tenha respeito.

Quando transo com uma mulher logo no primeiro encontro sou praticamente aplaudido de pé. Ninguém me chama de “vagabundo”, “fácil”, “puto” ou “vadio” por fazer sexo casual às vezes.

Ninguém fica chocado quando eu digo que assisto pornôs.

Ninguém nunca vai me julgar se eu disser que adoro sexo.

Ninguém nunca vai me julgar se me ver lendo literatura erótica.

Ninguém fica chocado se eu disser que me masturbo.

Ninguém me critica por investir na minha vida profissional. Quando ocupo o mesmo cargo que uma mulher em uma empresa, meu salário nunca é menor que o dela – ao contrário, costuma ser 30% maior, na mesma função. Se sou promovido, ninguém faz fofoca dizendo que dormi com minha chefe. As pessoas acreditam no meu mérito.
Se tenho que viajar a trabalho e deixar meus filhos apenas com a mãe por alguns dias, ninguém me chama de irresponsável.

Ninguém acha anormal se, aos 30 anos, eu ainda não tiver filhos.

Se eu engravidar minha namorada e decidirmos por um aborto, ninguém vai me chamar de "vagabundo e assassino".

Ninguém palpita sobre minha orientação sexual por causa do tamanho do meu cabelo.
Quando meus cabelos começarem a ficar grisalhos, vão achar sexy e ninguém vai me chamar de desleixado.

Ninguém me julgaria por ser pai solteiro. Pelo contrário, eu seria visto como um herói.

Nunca apanhei por ser homem e não cumprir o papel que a sociedade espera de mim. Nunca fui obrigado a cuidar das tarefas da casa por ser homem. Nunca me disseram que preciso a aprender a cozinhar e que meu lugar é na cozinha por ser homem.

Ninguém diz que não posso falar palavrão por ser homem. Ninguém diz que não posso beber por ser homem.

Ninguém justifica meu mau humor falando dos meus hormônios.

Nunca fizeram piadas que subjugam minha inteligência por ser homem.

Quando cometo alguma gafe no trânsito ninguém diz “Tinha que ser homem mesmo!”

Quando sou simpático com uma mulher, ela não deduz que “estou dando mole”.

Nunca me encaixo como público-alvo nas propagandas de produtos de limpeza.
Sempre me encaixo como público-alvo nas propagandas de cerveja.

Não há trotes nas universidades que promovam minha humilhação e objetificação.

A sociedade não separa as pessoas do meu sexo em “para casar” e “para putaria”.

Quando eu digo “Não” ninguém acha que estou fazendo charme. Não é não.

As pessoas do meu sexo não foram estupradas a cada 40 minutos em SP no ano passado.
As pessoas do meu sexo não são estupradas a cada 12 segundos no Brasil.
As pessoas do meu sexo não são estupradas por uma multidão nas manifestações do Egito.


Não sou homem.

Mas, se você é, é fundamental admitir que a sociedade INTEIRA precisa do Feminismo.

Não minimize uma dor que você não conhece."





(Adaptação do texto original escrito por Camila Oliveira Dias )


O SILÊNCIO DAS INOCENTES


O vídeo de dez minutos, que é parte de um documentário com aproximadamente uma hora de duração, traz depoimentos de vitimas e diversas falas de especialistas em violência doméstica, além do relato feito pela própria Maria da Penha sobre sua trajetória e denúncia feita à OEA - que puniu o Estado Brasileiro pela grave omissão contra os direitos humanos das mulheres e então fez com que o Brasil promulgasse a Lei Maria da Penha.
Uso sempre em minhas palestras, porque as falas nele contidas, especialmente os depoimentos das vítimas, expõem um drama difícil de ser entendido por quem nunca vivenciou uma relação violenta. E criar empatia com essas mulheres em situação de violência é o primeiro passo para compreende-las e não mais julgá-las pela violência que sofrem e às vezes não conseguem se libertar.

Como muito bem aponta o psicólogo Fernando Acosta,  ouvido no documentário: "Você faz o que com essa história? Vou condenar essa mulher porque está amando o cara?´Não é isso que eu tenho que fazer. Amor a gente não condena."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Bata nela


A reação de meninos italianos ao serem estimulados a bater numa menina.

A violência não é um comportamento natural, mas naturalizado. E as crianças reproduzem o que veem. Esse vídeo mostra muito do ambiente familiar em que esses meninos vivem.
Para termos homens adultos não agressores, precisamos proteger os meninos de um ambiente com violência.

O Início

"LAR: Lugar de Amor e Respeito" é o nome de um projeto que criei em 2013, e agora toma também a forma de um blog. Um novo espaço para a divulgação e compartilhamento de ideias e experiências, uma ferramenta a mais para o combate à violência doméstica e familiar contra mulheres e crianças.
O lar, que deveria ser um lugar de amor, respeito, afeto, proteção e cuidado, muitas vezes é o cenário de muita violência, física, psicológica, sexual, contra os seus entes mais vulneráveis: as mulheres e as crianças. Acreditando que a abordagem dessa violência deva se dar de forma articulada, usando os mecanismos contemplados na Lei Maria da Penha e no Estatuto da Crianca e do Adolescente, é que idealizei o projeto - que está em permanente cinstrucao, e tem nessa nova ferramenta uma possibilidade de agregar mais ideias e colaboradores. Sejam todos muito bem vindos!

"Por enquanto
 há escória de sobra.
O tempo é escasso-
mãos à obra.
Primeiro                                                                                           
é preciso                                                                                    
transformar a vida,
para cantá-la -
em seguida."

Wladimir Maiakoviski